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ComCiência
On-line version ISSN 1519-7654
ComCiência no.141 Campinas Sept. 2012
ARTIGO
Educação à distância e mídia-educação: da modalidade ao método
Maria Luiza Belloni*
Educação a distância: a oportunidade de inovar
Dentre as mudanças sociais mais importantes nas sociedades contemporâneas cabe ressaltar o incrível progresso das tecnologias de informação e comunicação (TIC), parte de um fenômeno mais amplo que se pode definir como uma tecnificação intensa da vida humana. Essas mutações tecnológicas exigem do indivíduo do século XXI novas competências comunicacionais e novos modos de acesso à cultura e de aquisição do saber (aprender a aprender e re-aprender constantemente). As crianças chegam à escola com habilidades, conhecimentos e valores construídos com essas mídias fascinantes, as TIC conectadas à internet, a rede mundial de computadores. Com as TIC, as novas gerações estão criando formas novas de aprender e um imaginário desconhecido dos adultos, inclusive professores, cuja formação ignora essas tecnologias, que são, no entanto, elementos essenciais das culturas dos jovens.
A crescente complexidade das sociedades, o avanço tecnológico (informática, telecomunicações, digitalização, nanotecnologia etc) e suas aplicações no mundo do trabalho geram um crescimento quantitativo e qualitativo da demanda de educação: cada vez mais pessoas querendo educar-se em áreas cada vez mais variadas, ao longo da vida. Diversidades culturais, socioeconômicas e cognitivas de populações estudantes cada vez mais numerosas exigem profundas transformações nos sistemasde educação, em suas estratégias e finalidades sociais e, sobretudo, em suas metodologias. Para poder responder àquelas demandas e oferecer uma educação adequada às culturas jovens será preciso reinventar a pedagogia e ampliar muito os investimentos e as inovações.
Neste contexto, a educação a distância (EaD) aparece como uma solução, um caminho para a inovação. A educação a distância é inovadora não apenas por responder às demandas quantitativas de democratização do acesso ao ensino superior, técnico e supletivo, mas também por contribuir para a melhoria da qualidade da educação: ao favorecer a integração das TIC aos processos educacionais, atividades de ensino a distância estimulam e possibilitam a inovação metodológica, permitindo que os sistemas educacionais se modernizem e ofereçam um ensino mais sintonizado com as culturas das novas gerações e com as demandas da sociedade.
As tendências mais prováveis no mundo de hoje indicam uma convergência das duas modalidades de ensino (presencial e a distância), com o crescente uso de TICs e metodologias decorrentes, além de sinergias positivas entre elas, com vantagens para ambas: o ensino convencional se beneficiaria com as inovações metodológicas desenvolvidas pela EaD e o ensino a distância seria beneficiado pela excelecência e longa experiência acadêmica das universidades. Tal convergência é especialmente importante na formação de professores da escola básica.
Outra tendência atual, a convergência técnica1, é extremamente importante para a educação pois, como dizia o educador canadense Marshall McLuhan, "o meio é a mensagem", ou seja, a sofisticação crescente das TICs e a democratização do acesso a esses novos dispositivos provocam transformações sociais, culturais, econômicas, políticas e, por consequência, nos modos de perceber o mundo, de aprender e de agir. Como é natural e evidente, tais transformações nos modos de perceber e aprender atingem mais fortemente crianças e jovens, que vivem seu processo de socialização2, o que demanda mudanças radicais nos modos de ensinar, de organizar a oferta de ensino, de criar ambientes de aprendizagem.
Novos modos de aprender
Do ponto de vista conceitual, seria pois essencial deslocar o foco da discussão sobre a EaD, da modalidade para o método, isto é, dos modos de organização da oferta de ensino (presencial, a distância, com cotas, intensivo, estendido, progressão curricular por disciplinas, créditos, temporal, modular etc) para a invenção de novos métodos de ensino mais adaptados às culturas jovens. Essas culturas são audiovisuais, impregnadas de TICs, consumo e participação, e exigem métodos de aprendizagem mais autônomos, integração das novas mídias/TICs, pedagogias baseadas no uso intensivo de mensagens e tecnologias audiovisuais.
Tais métodos têm que considerar tudo o que as crianças e jovens já conhecem (são usuários assíduos) e que a escola ignora. As estratégias de aprendizagem que os jovens desenvolvem (autodidaxia, ensaio e erro, colaboração...) são os elementos chaves dessa nova pedagogia (leia artigo de Belloni & Gomes, 2008).
Esses novos modos de aprender mais autônomos, as novas gerações vêm desenvolvendo fora da escola, interagindo entre pares (isto é, os jovens entre eles), muitas vezes em situações de aprendizagem colaborativa, utilizando as diferentes ferramentas disponíveis na internet. Tais ferramentas, porém, não são neutras e sua lógica (instrumental, mercantil, publicitária) determina, em grande parte, as aprendizagens construídas pelas crianças. De modo geral, os conteúdos veiculados por essas redes (jogos, música, filmes, vídeos) são comerciais, espetaculares e pouco educativos, mas os métodos de comunicação utilizados são extremamentes eficientes, potencializados pela virtudes comunicacionais das TICs e das redes.
Para inventar uma pedagogia adequada, é preciso aprender com os jovens, sobre esses métodos de comunicação e apropriar-se desses novos métodos de aprendizagem para integrá-los aos métodos de ensino, numa perspectiva de mídia-educação. Isso significa utilizar as virtudes educacionais das TICs como meios para fazer a crítica de sua lógica e de seus próprios conteúdos, com o objetivo de formação do usuário crítico e criativo.
A compreensão das relações entre as TICs (entendidas como processos sociais) e os processos educacionais (a que chamamos genericamente "educação") é fundamental para a criação de pedagogias adequadas. Para tanto, é imprescindível estudar e aprender com os jovens, sujeitos do processo de socialização, porque eles, nativos desta era da informática e das telecomunicações, consideram tais tecnologias tão naturais quanto qualquer outro elemento de seu universo de socialização. Estão, portanto, mais aptos (do que nós adultos) a delas extrairem o melhor e o pior para construir sua formação.
Mídia-Educação: metodologia da EaD
As definições mais atuais de mídia-educação se referem, em primeiro lugar, à inclusão digital, ou seja, à universalização do acesso e à apropriação dos modos de operar essas "máquinas maravilhosas", que abrem as portas do mundo encantado da rede mundial de computadores, possibilitando a todos se tornarem produtores de mensagens midiáticas. A mídia-educação tem três dimensões essenciais : i) objeto de estudo, que é a leitura crítica de mensagens e linguagens; ii) ferramenta pedagógica, que diz respeito ao uso de mídias em situações de aprendizagem, isto é, à integração aos processos educacionais ; iii) apropriação crítica e criativa das mídias como meios ou ferramentas de expressão e participação, acessíveis a qualquer cidadão jovem ou adulto (veja Revista PontOCom).
É importante enfatizar a necessidade da mídia-educação face à onipresença das mídias na vida social, principalmente na vida dos jovens, como elementos importantes da cultura contemporânea, como meios potenciais de participação ativa do cidadão e como ferramentas de expressão da criatividade pessoal. Cabe ressaltar também a importância, cada vez maior, da mídia-educação para lutar contra as desigualdades (sociais e regionais) de acesso às diferentes mídias e para a formação das competências necessárias ao domínio técnico e à compreensão crítica, não apenas das mensagens das mídias, como das forças político-econômicas que as estruturam. Competências estas indispensáveis para o exercício pleno da cidadania, ou seja, para estimular a participação ativa dos jovens baseada na valorização das diversidades culturais e identitárias (leia artigo de Bévort & Belloni, 2009).
Não se trata apenas de inclusão digital (mera alfabetização de massa), mas de letramento em pixel, ou formação crítica e criativa em audiovisual. Fazer das mídias objetos de estudo na escola significa formar o cidadão capaz de exigir das mídias de massa (os donos da voz) mercadorias (mensagens, conteúdos) de qualidade, adequadas aos objetivos comunicacionais e educativos previstos na lei e não cumpridos. Um cidadão também capaz de lutar, utilizando os canais da democracia representativa e as mídias, para exigir regulação da comunicação de massa no Brasil (a voz dos donos). Assim, ele seria formado para fazer uma leitura crítica das mensagens e recusar as que contradigam princípios éticos, estéticos e educativos. E, por fim, para poder expressar-se de modo crítico e criativo, utilizando todas as linguagens e ferramentas de informação e comunicação que o avanço técnico coloca à disposição da sociedade (leia artigo de Belloni & Lapa, /2012).
A educação a distância é uma modalidade de ensino que substitui a relação direta entre um professor e um grupo de alunos reunidos em uma sala de aula, por uma relação de ensino e de aprendizagem, entre diversos professores e muitos estudantes, baseada na mediação de tecnologias de informação e comunicação. A discussão sobre essa modalidade de ensino tem sido focada no fator distância e consequente separação física entre o professor e o aluno, que quebra o modelo tradicional da relação didática baseada na transmissão do conhecimento pelo professor-que-sabe ao aluno-que-não-sabe. O professor é o centro do processo, pois ele detém o conhecimento dos conteúdos e escolhe o método de ensino. Essa discussão está permeada de tensões e incompreensões no campo da educação, que revelam as contradições dos campos de interesse e um certo receio de que o professor seja substituído pelas mídias. Tal compreensão é porém equivocada, pois não apenas a integração das novas mídias aos processos de aprendizagem não substitui o professor, mas ao contrário torna mais complexa sua função e exige formação específica.
No modelo convencional de ensino, baseado no texto impresso e na figura central do professor em sala de aula, o foco está no conteúdo a ser transmitido e adquirido (o que levou Paulo Freire a qualificar esse modelo como uma relação "bancária"), enquanto o método é visto do ponto de vista do ensino e não da aprendizagem. Na educação a distância o uso intensivo de mídias subverte totalmente essa relação, colocando o foco na auto-aprendizagem e nos novos modos de aprender com as mídias. Dois aspectos são essenciais à EaD: a mediatização técnica, que substitui a sala de aula por ambientes virtuais de aprendizagem, e a mudança radical nos papéis respectivos de professor e aluno, na qual os professores produzem materiais e os estudantes assumem a gestão de sua aprendizagem (aberta e flexível) e colaboram entre si nesses ambientes.
Na EaD o ensino passa a ser assegurado não mais por um indivíduo isolado em sua sala de aula, transmitindo seu conhecimento e experiência a um grupo relativamente pequeno de alunos, mas por equipes interdisciplinares de planejamento e produção de materiais midiáticos. Os estudantes, mais numerosos, não estão mais reunidos numa sala de aula, mas dispersos no espaço e no tempo, autônomos, sem controle de frequência. Por isso, a educação a distância é desaconselhada para crianças e adolescentes. O estudante autônomo, que é a figura chave da EaD, tem que achar em si próprio a motivação para os estudos, a disciplina para organizar e cumprir tarefas e prazos e uma certa cultura escolar e midiática que lhe permite ir construindo sua aprendizagem e seus métodos. Esse isolamento do estudante, individualização extrema do ensino, pode ser compensado pelo uso de ferramentas interativas que facilitam o trabalho colaborativo e permitem à equipe docente (professores, tutores, produtores) acompanhar e apoiar a aprendizagem (fóruns, mail, redes sociais etc).
Para compreender o que está em jogo na EaD é preciso, pois, deslocar o foco da discussão da modalidade para o método, isto é, para os modos de ensinar e aprender com esses novos artefatos técnicos e, sobretudo, é imprescindível levar em consideração o que os aprendentes já aprenderam com eles. Geeks, hackers, nerds ou nativos digitais, qualquer que seja a denominação tentativa de descrever as características das novas gerações de estudantes, o fato é que elas são usuárias ativas e participativas dessas novas técnicas, utilizando-as para interagir, informar-se, aprender. Criam, assim, universos culturais e imaginários totalmente desconhecidos dos adultos em geral e da instituição escolar em particular. Além disto, é preciso não esquecer que a cultura dos jovens é essencialmente audiovisual, ao contrário da cultura escolar, baseada no discurso verbal oral e escrito.
Atualmente, em que pese o avanço técnico na área da comunicação, e a disseminação dessas TICs em todas as esferas da sociedade, transformando o mundo do trabalho e a vida das pessoas, os métodos de ensino, da pré-escola ao ensino superior, obedecem à mesma lógica linear e analítica da linguagem verbal escrita e, na maioria dos casos, ainda uma disciplinaridade quase inflexível. As mídias audiovisuais, agora com virtudes comunicacionais potencializadas porque digitais e interativas, desenvolvem e estimulam outros modos de perceber o mundo (habilidades perceptivas e cognitivas), outras sensibilidades e, por consequência, outros métodos de aprendizagem, decorrentes em grande parte de sua interação com as mídias digitais em rede ou não. Tais fenômenos não são totalmente novos na sociedade: a internet tem 20 anos, a televisão 60 e o cinema já completou seu primeiro centenário). No entanto, a educação em seus diferentes níveis tem dificuldade de integrar em seus métodos as novas lógicas e competências desenvolvidas pelos jovens usuários em suas relações com as mídias (portanto fora da escola e à sua revelia).
Nessa perspectiva, deve-se entender a EaD a partir de uma integração mais ampla das tecnologias de informação e comunicação aos processos de ensino e de aprendizagem. A mídia-educação constituiria, assim, uma espécie de método para realizar tal integração, à escola em todos seus níveis, de modo analítico, crítico e criativo e não meramente instrumental.
Uma das áreas onde a EaD faz muito sentido e pode trazer grandes contribuições à melhoria da educação em todos os níveis é a formação de professores, desde que seja realizada numa perspectiva de mídia-educação: não se trata apenas de "instrumentalizar" o professor para usar TIC em suas práticas pedagógicas, mas de prepará-lo para formar cidadãos capazes de ser usuários competentes, críticos, criativos e participativos, a começar por ele próprio. O tema educação a distância é um corolário lógico dos argumentos desenvolvidos acima em favor da integração das TICs à escola: a educação a distância, cujos principais programas desenvolvidos hoje no Brasil são de formação de professores, pode trazer uma grande contribuição para a revolução necessária nessa formação, pois certamente o professor que participou de um processo de aprendizagem autônomo e utilizou tecnologias para aprender estará melhor preparado para utilizá-las de modo competente e criativo com seus alunos e assim reinventar a pedagogia.
Tecnologias e qualidade: cenários de mudança
Quanto às tecnologiasé imprescindível pensá-las criticamente, considerando-as não como "extensões" de nossos sentidos (McLuhan) ou como próteses turbinando nossos corpos e potencializando nossas capacidades, mas como ferramentas a serviço da criatividade humana e da liberdade. Para isso, é preciso contestar as teses sociotécnicas, que consideram homens e máquinas como partes de uma mesma rede regidos por regras técnicas, e desenvolver uma sociopolítica dos usos, inventando práticas comunicativas e informativas libertárias que permitam aos jovens escapar da dominação cultural e comunicacional e apropriar-se dessas técnicas colocando-as ao serviço de sua formação como pessoas autônomas. Cabe lembrar que as TICs são dispositivos técnicos especialmente sofisticados e ambivalentes, podendo funcionar como meios de opressão da liberdade ou como meios de criação e expressão e de exercício da cidadania.
Não existem avaliações comparativas que nos permitam concluir que a qualidade da formação presencial é melhor do que a oferecida na modalidade a distância. Mas existem estudos que revelam a baixa qualidade da formação de grande parte dos professores da escola básica no Brasil. Por esta razão, trabalho com a hipótese otimista que, neste momento no Brasil, a formação de professores em cursos a distância pode contribuir efetivamente para melhorar a qualidade da formação presencial e, num futuro próximo, a qualidade do ensino básico. Agora, em caráter emergencial, a EaD permite ampliar rapidamente o atendimento, assegurando a qualidade, atingindo regiões e grupos de professores que de outra forma não poderiam ser incluídos, levando até eles uma formação elaborada e realizada por profissionais competentes de nossas melhores universidades públicas. No futuro, podemos pensar no Brasil, em educação a distância integrada às instituições de ensino superior convencionais, numa proposta pedagógica e científica que integre o uso das tecnologias de informação e comunicação de modo a otimizar tempo e recursos, e dar ao professor do ensino superior oportunidades de adequar melhor seu trabalho aos modos de aprender dos jovens estudantes. Essa convergência de paradigmas significaria uma universidade aberta onde os estudantes podem escolher atividades a distância (em ambiente virtuais) e /ou presenciais, segundo seus interesses e necessidades.
Neste sentido, a proposta brasileira de uma Universidade Aberta (UAB), construída por e nas universidades convencionais, poderia ser um caminho bastante adequado de ampliar a oferta e democratizar o acesso assegurando a qualidade acadêmica. Tais cenários otimistas dependem, todavia, de políticas públicas enérgicas, realistas e generosas que não estejam baseadas no princípio equivocado e ilusório de que a EaD permite economizar recursos financeiros. Infelizmente até o momento, a UAB continua sendo mais um programa de caráter emergencial e transitório do que uma nova proposta de oferta de ensino superior. Mesmo nas universidades participantes da UAB, suas atividades não estão integradas ao sistema regular de ensino.
A EaD permite economizar tempo, vencer distâncias, inovar metodológica e tecnicamente, mas para dar certo exige investimentos consequentes, não apenas em equipamentos, mas principalmente na formação e remuneração de todos os profissionais envolvidos. Ao contrário do que muitos pensam, a EaD de qualidade exige altos investimentos e seu custo menor por estudante é uma ilusão que só se torna realidade quando há grandes contingentes de estudantes que finalizam com sucesso os estudos numa perspectiva de longo prazo que permite amortizar os investimentos iniciais. Infelizmente, a ilusão de que a EaD vai permitir aos governos ampliar a oferta de ensino superior a baixos custos está na base das políticas públicas do setor, como mostra a experiência da UAB.
O trabalho do professor de EaD é extremamente complexo e exige formação específica. Tentei compreender esta complexidade com o conceito de professor coletivo. Temos muito poucos estudos sobre o assunto, porém os que já existem mostram um maior grau de complexidade e exigências muito maiores nas equipes de EaD do que no trabalho solitário e individual do professor na sala de aula. Quase não há formações prévias para esses corpos docentes, que aprendem a fazer educação a distância, fazendo, isto é, trabalhando em equipe com outros profissionais, criando novas estratégias.
Notas
1. Por exemplo, o telefone celular, que oferece grande multiplicidade de funções num só dispositivo, cada vez menor, conectado.
2. A socialização é um conjunto de processos pelos quais o indivíduo é construído (segundo a visão de sociedade que se tem, pode-se dizer: formado, modelado, condicionado ou fabricado) pela sociedade global e local, processos durante os quais o indivíduo adquire (incorpora, integra, interioriza, se apropria) modos de pensar, fazer e de ser socialmente situados. Trata-se de processos fundamentalmente ativos que se desenrolam durante toda a vida, por meio das práticas e das experiências vividas, não se limitando de modo algum a um simples adestramento realizado pela família, pela escola e outras instituições especializadas. Embora o ser humano se socialize ao longo de toda sua existência, em socializações sucessivas, esses processos são especialmente importantes na infância e na adolescência. Esse processo, extremamente complexo e dinâmico, integra a influência de todos os elementos presentes no meio ambiente e exige a participação ativa da criança, sendo resultado da interação da criança com seu universo de socialização. Nas sociedades contemporâneas, caracterizadas pela globalização econômica e cultural e, sobretudo, pela presença crescente de poderosas mídias eletrônicas e novos e fascinantes objetos técnicos, as experiências vividas pela criança tendem a se caracterizar, entre outros, por quatro aspectos das relações entre as gerações, que nos interessam especialmente: i) pela confusão entre a vida privada e a vida pública; ii) pela obnubilação das fronteiras entre o mundo adulto e o mundo infantil; iii) por uma maior reflexividade; iv) e por um fosso tecnológico entre as gerações que subverte a relação tradicional entre o adulto que sabe e a criança que não sabe. In: O que é sociologia da infância. Autores Associados, 2009.
Sugestões de leitura
Belloni, M.L. Crianças e mídias no Brasil: cenários de mudança. Papirus,2010.
Unesco. L'education aux médias. Actes e synthèse do Seminário Euro-mediterrâneo. Paris: Unesco, 2005.
Unesco. L'education aux médias. Actes, synthèse et recommendations do Encontro Internacional de Paris, 2007.
Unesco. International Conference Educating for the Media and Digital Age. Vienna, 1999.
Maria Luiza Belloni é professora da Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisadora CNPq, com pesquisas e publicações nas áreas: sociologia da infância e da educação; mídia-educação; educação a distância. Atualmente aposentada, continua participando do Grupo de Pesquisa Comunic ligado ao Laboratório de Novas Tecnologias do Centro de Educação da UFSC.
* 10/09/2012