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ComCiência

versão On-line ISSN 1519-7654

ComCiência  no.150 Campinas jul. 2013

 

RESENHA

 

Inovação aberta em números1

 

 

Meghie Rodrigues

 

 

A inovação aberta (IA), afinal, parece um conceito um bocado intangível, mas nem tanto: pode ser colocado em números e observado em práticas empresariais. Não se trata apenas de colocar boas ideias sobre processos e produtos em ação, mas contar com a expertise e recursos de outras empresas e parceiros para atingir um objetivo – e claro, investir em ideias novas. Em 2011, a NineSigma, empresa norte-americana provedora de serviços em inovação aberta, compilou algumas estatísticas que mostram como a IA vem sendo aplicada globalmente em centenas de empresas ao redor do mundo.

O relatório de pesquisa de opinião "Melhores práticas, desafios e novas oportunidades" contou com cerca de 360 empresas de todos os setores, que responderam a um questionário sobre ações e práticas em inovação aberta, elaborado pela NineSigma. Os dados foram compilados entre o fim de 2010 e meados de 2011 e mostraram tendências interessantes: foi possível constatar, por exemplo, que mais empresas se sentem altamente engajadas em promover a inovação aberta internamente (62%) do que externamente, em sua rede de parceiros (46%). O surpreendente é que a porcentagem de empresas que se sentem altamente capacitadas para pôr a IA em prática internamente é menor (4% dos respondentes) que as que sentem que podem colocar a IA em prática externamente (7% do total). Uma razão para tal, segundo o relatório, é que "mais companhias estão com o foco em recursos externos do que internos para aquisição de conhecimento".

O documento, redigido em inglês, é sucinto (tem 24 páginas), tem linguagem leve e é muito interessante para quem se interessa por inovação como processo colaborativo. Está dividido em sete partes: um resumo geral para introduzir o conceito de inovação aberta e sua importância no mercado; uma introdução apresentando o estudo e suas premissas; uma terceira parte para falar da adoção de IA por parte das empresas; na quarta seção, dados sobre colaboração interna; a colaboração em rede (parceiros próximos ou "ecossistema") na quinta seção; a colaboração global na sexta parte e, por último, tendências e oportunidades. Foi possível perceber, por exemplo, que as organizações que mais inovam são as envolvidas com pesquisa, produtos ao consumidor e produtos industriais. Entre as que menos inovam estão as de maquinário pesado, mineradoras e editoras e os grandes jornais.

Para avaliar a relação das empresas respondentes com a IA, a NineSigma desenvolveu um sistema de quatro quadrantes apelidado de Modelo E2, ou "Engage and Enable" (Comprometer e Capacitar): o inferior esquerdo ("early stage") abriga empresas em estágio inicial de desenvolvimento de inovação aberta, o inferior direito ("highly enabled") representa organizações que desenvolveram infraestrutura apropriada para inovação aberta, mas sem grande alcance entre as comunidades externas. No quadrante superior esquerdo ("highly engaged") encontram-se as empresas bem-sucedidas em desenvolver redes externas, mas que ainda não dispõem de pessoal, processos e tecnologias para administrar o processo de IA. O quadrante superior direito ("leading") agrupa as empresas que demonstram capacidade tanto em formar redes externas de inovação quanto em oferecer infraestrutura adequada para administrar o processo – por isso estão na liderança em IA.

O texto lembra que a inovação aberta se dá em três camadas de colaboração: interna, entre a rede de colaboradores próximos já existente e em escala global. De acordo com o relatório, poucas empresas se enquadram nas organizações que lideram o processo em pelo menos uma das três camadas (6% na colaboração interna, apenas uma na colaboração com redes próximas e nenhuma liderando o processo de IA em escala global).

Em relação à colaboração interna, isto se dá em parte por haver a necessidade de sistemas mais eficientes de administração de conhecimento e informação – para os quais as mídias sociais têm, segundo o relatório, se mostrado bastante eficazes como meio informal de administração de comunicação interna. Restrições de tempo e de pessoal, bem como falta de ferramentas e know-how, foram apontados como os principais fatores que impedem o avanço da colaboração intra-organizações em IA. Saber como lidar com esses fatores dentro da cultura de cada organização representa um grande desafio. Apenas 4% dos respondentes consideraram estar altamente capacitados para implantar um sistema eficaz de colaboração interna, enquanto 28% deles estão em estágio inicial e 62% estão altamente comprometidos a fazê-lo.

Um sistema eficaz para administrar conhecimento e informação também representa um desafio para a colaboração entre uma rede de parceiros. Além disso, muitas organizações consideram ter certa dificuldade em acessar o expertise dos parceiros (cerca de 50% dos respondentes) e também reconheceram não usar completamente a rede em que estão inseridas (cerca de 40%). Por outro lado, mais respondentes se sentiram altamente capacitados para implantar um sistema de colaboração com organizações parceiras (7% do total) e também mais empresas se encontram no estágio inicial desta colaboração em rede (47%) – e por isso há menos organizações altamente engajadas neste nível do que no anterior (46%). Questões de propriedade intelectual envolvendo organizações e universidades parceiras são um grande tema a ser tratado no que concerne esta colaboração em rede.

Já no âmbito global de colaboração, apesar de nenhuma empresa liderar o processo de inovação aberta, 71% das respondentes estão em estágio inicial, 9% se consideram altamente capacitadas para implantar o processo e 20% estão altamente comprometidas com a IA em escala mundial. A maioria delas utiliza empresas intermediárias, consórcios e sites externos para apreender ideias colaborativas que venham de fora de suas empresas e redes de contato. E principalmente estes últimos, de acordo com o relatório, começaram a proliferar rapidamente nos últimos anos e têm oferecido resultados positivos para as organizações que os utilizam – mas é preciso que elas saibam como gerir a informação que chega.

Tendo tudo isto em vista, o relatório da NineSigma destaca as ferramentas e conhecimento em gestão da informação como um ponto crucial para o processo de implantação da inovação aberta. Saber quais ferramentas usar para as necessidades que aparecem também é muito importante, bem como capacitar e gerir os recursos humanos para identificá-las. O sistema de recompensas e o departamento legal também precisam estar alinhados no processo (trabalhar com pessoas motivadas que entendam os benefícios e os objetivos da IA é um ponto positivo, bem como facilitar trâmites de processos e produtos, como questões envolvendo propriedade intelectual e patentes). Isto pode ajudar em um ponto sublinhado como muito importante no relatório: reconhecer o valor da IA em todos os níveis de uma organização. Isto ajuda o processo a acontecer de forma mais natural e mais autônoma.

Pela leitura desse relatório é possível perceber que a inovação aberta é um processo ainda em desenvolvimento inicial, mas com bastante potencial. Não é simples, pois demanda, de certa forma, mudança na cultura corporativa (principalmente nos setores que se mostram menos flexíveis, ou que inovam menos), mas pode trazer grande valor agregado no que diz respeito à captação e execução de novas ideias e otimização de produtos e processos.

Melhores práticas, desafios e novas oportunidades

 

 

10/07/2013

 

 

1 Relatório de empresa norte-americana mostra como a inovação aberta vem sendo aplicada globalmente em empresas