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ComCiência

On-line version ISSN 1519-7654

ComCiência  no.109 Campinas  2009

 

ARTIGO

 

O papel da fisioterapia no acidente vascular cerebral

 

 

Luiz Carlos Boaventura

 

 

Quem não conhece uma pessoa que já tenho tido um acidente vascular cerebral (AVC) ou um derrame? Infelizmente, cada dia mais e mais, essas três letras estão presentes na vida das pessoas. Para quem não sabe, o início do AVC, na maioria das vezes, é provocado de forma abrupta ou em forma de crise de sintomas neurológicos causados por isquemia (ausência de fluxo sanguíneo) ou hemorragia (extravasamento de sangue) no cérebro. Entre as causas dessa catástrofe, estão: as doenças dos vasos sanguíneos, a pressão alta, o diabetes, o rompimento de um vaso sanguíneo no cérebro, a trombose aguda, os tumores e a embolia. Porém, s eja qual for a causa, as consequências ou sequelas se instalam sempre com muita rapidez, provocando problemas à capacidade física e ao estado emocional do paciente.

Quando acontece o AVC, o corpo do paciente sofre alterações importantes, tais como: dificuldade na movimentação normal, diminuição da força muscular e da coordenação motora, perda do equilíbrio, dificuldade para andar, dificuldade na fala e na deglutição e falta de sensibilidade, entre outras. Diante dessa nova situação, muitos pacientes que apresentam sequelas isolam-se em suas casas, pois estão preocupados com a reação que outras pessoas podem ter por causa da sua nova estética corporal.

Como primeira causa de mortalidade e incapacitação no mundo, o AVC merece grandes esforços de prevenção e tratamento rápido. Mas como enfrentar esse desafio? As primeiras medidas de tratamento do paciente com AVC estão a cargo do médico, que precisa intervir imediatamente, e em caráter de urgência, logo após o AVC.

Porém, há muito mais para se fazer depois dessa primeira intervenção médica. O tratamento do AVC em seus estágios iniciais evoluiu de maneira extraordinária na última década, mostrando que as lesões cerebrais secundárias a esse evento podem não ser tão permanentes como se acreditava anteriormente. Um curto período inicial de internação se faz necessário em muitos dos casos, mas o paciente deve retornar ao lar o mais rapidamente possível. Quase sempre, a essa altura, ele terá necessidade de reabilitação bem conduzida, para evitar a instalação de graves sequelas.

A fisioterapia pode contribuir, e muito, para minimizar ou até mesmo eliminar por completo a maioria dessas sequelas. Antes de qualquer coisa, deve-se detectar a causa do AVC e, em seguida, começar a trabalhar na resolução desse novo desafio. Tão logo o paciente esteja estável e ciente de sua situação e da extensão de suas sequelas, deve-se iniciar o atendimento de fisioterapia. O programa fisioterápico precoce, intensivo, eficaz, é sempre necessário, importante e, principalmente, capaz de prevenir as possíveis complicações, aumentando assim, a expectativa e a qualidade de vida do paciente.

A reabilitação após o AVC significa ajudar o paciente a usar plenamente toda sua capacidade, a reassumir sua vida anterior, adaptando-se à sua atual situação. Essa reabilitação consiste na aplicação de um programa planejado, através do qual a pessoa, no pós-AVC, ainda convalescente, mantém ou progride para o maior grau de independência.

O fisioterapeuta começará por atividades simples de movimentação de ambos os lados do corpo. Essa atividade inicial é muito importante, pois só assim o paciente terá maior segurança ao tentar movimentar-se. Serão realizados exercícios para fortalecer os músculos e também para alongá-los, treino de equilíbrio e vários estímulos para recuperar a sensibilidade.

Muitas das atividades iniciais, com o passar dos dias e com a melhora do paciente, serão modificadas para um novo desafio, fazendo com que o paciente possa progredir até sua recuperação. Um aspecto extremamente importante é estimular o paciente a ter o máximo de independência para realizar as suas atividades diárias, das mais simples às mais difíceis.

Outro aspecto importante a ser enfatizado é a dificuldade de aceitação, pelo paciente e também pela família, de que o tratamento é um processo lento e gradual de aprendizagem. Observamos também que o tempo para a reabilitação, parcial ou total, está relacionado com a lesão, o grau das sequelas do AVC e outros agravantes, como, por exemplo, a presença de quadro depressivo.

 

Estratégias e orientações ao paciente pós-AVC:

  • Promover a movimentação e a reabilitação do paciente o mais precocemente possível, logo que a situação clínica o permita.
  • Envolver o pacientes e a família no processo de reabilitação.

Os programas de informação estruturados são, sem dúvida, uma necessidade para os pacientes com AVC e para os seus familiares, ou seja, quanto mais esclarecidos estiverem, melhor será a sua participação e, consequentemente, melhor sua adesão ao tratamento e seu prognóstico. Para finalizar, é importante lembrar que a equipe de assistência ao paciente com AVC deve contar com médicos, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. Só desta maneira, teremos melhor efetividade e eficácia no tratamento pós-AVC.

 

 

Luiz Carlos Boaventura é fisioterapeuta formado pela Universidade de Ribeirão Preto, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto e docente do curso de fisioterapia do Centro Universitário Nossa Senhora Patrocínio, de Itu (SP).